Revista Época - 50 obras produzidas na ditadura - Musica - Filmes - Novelas e outras

30/05/2015 17:01

BRUNO CALIXTO, MARINA RIBEIRO E VINICIUS GORCZESKI

31/03/2014 08h00 - Atualizado em 04/04/2014 23h41

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Um dos legados mais duradouros da ditadura militar está no meio cultural, mais facilmente perceptível na música. Até o início dos anos 1960, os músicos brasileiros que fizeram história destacaram-se principalmente pela genialidade artística – tomem-se exemplos como Cartola, Dorival Caymmi, Noel Rosa e Pixinguinha. A partir dos anos 1960, uma nova geração de músicos passa a ser avaliada por seu talento e, em igual medida, por suas atitudes e opiniões sobre a sociedade, a política e o Brasil – entram em cena Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Rita Lee e Tom Zé.

Os artistas, principalmente aqueles egressos da classe média instruída, passaram a ser cobrados a respeito de suas visões de mundo. A ditadura contribuiu com essa expectativa. Embora tenha sempre exercido a censura, empenhou-se em construir um delicado balanço. Ao mesmo tempo em que reprimia a atuação de movimentos sociais e a oposição política, tentava dar alguma liberdade a manifestações críticas no campo das artes. “Por mais que seja absurdo ou contraditório, foi um período de muita efervescência intelectual”, diz o escritor Carlos Heitor Cony (que relança, em abril, o livro O ato e o fato, de 1964). “Houve muita reação intelectual sem recorrer às armas. Apesar da repressão, se analisarmos Caetano, Gil, (Geraldo) Vandré e o pessoal do teatro, vemos que quem tinha coragem de dizer alguma coisa disse.”

A imagem dessa geração de artistas foi polida pelo atrito com a ditadura e amplificada pelo fortalecimento da indústria cultural. Gravadoras, editoras e emissoras de TV expandiram-se junto com a urbanização, o avanço do capitalismo e o crescimento econômico ocorrido entre os anos 60 e 1973. “Isso contribuiu para dar ao músico um status de intelectual, algo peculiar do Brasil”, diz o historiador Marcos Napolitano, da Universidade de São Paulo (USP), especialista no tema. Até hoje, novas levas de artistas da música popular brasileira continuam sendo medidos contra uma mesma régua – aquela geração que chegou ao estrelato nos anos mais difíceis da ditadura militar.

Na lista abaixo, constam obras produzidas no período do regime militar – distribuídas entre livros, músicas, filmes e peças de teatro. Em outra lista, ÉPOCA também relaciona obras lançadas ao longo dos 21 anos após a abertura democrática. Esse conjunto busca esclarecer ou narrar os desdobramentos políticos do período.
 

 

Livros:
1. O mundo do socialismo, de Caio Prado Júnior, (1962)
2. História Militar do Brasil, de Nelson Werneck Sodré (1965)
3. Torturas e torturados, de Marcio Moreira Alves (1966)
4. Revolução Brasileira, de Caio Prado Júnior (1966)
5. O casamento, de Nelson Rodrigues (1966)
6. Dez histórias imorais, de Aguinaldo Silva (1967)
7. Copacabana - Posto 6, de Cassandra Rios (1972)
8. Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca (1975)
9. Zero, de Ignácio de Loyola Brandão (1975)
10. Mister Curitiba, de Dalton Trevisan (1976)
11. O cobrador, de Rubem Fonseca (1979)

 

Peças de teatro:
12. Liberdade, liberdade,  de Millôr Fernandes e Flávio Rangel (1965)
13. Papa Highirte, de Oduvaldo Vianna – Vianninha (1968)
14. O abajur lilás, de Plínio Marcos (1969)
15. Roda viva, de Chico Buarque (1967)

Músicas:
16. Pra não dizer que não falei das flores (Caminhando), de Geraldo Vandré (1968) 
17. Cálice, de Chico Buarque (1973)
18. Disparada, de Geraldo Vandré e Théo Barros (1966)
19. Alegria, alegria, de Caetano Veloso (1967)
20. O bêbado e o equilibrista, de Aldir Blanc e João Bosco (1969)
21. Mosca na sopa, de Raul Seixas (1973)
22. É proibido proibir, de Caetano Veloso (1968)
23. Apesar de você, de Chico Buarque (1973)
24. Acender as velas, de Zé Keti (1965)
25. Que as crianças cantem livres, de Taiguara (1973)
26. Jorge Maravilha, de Chico Buarque (1974)
27. Que país é este?, de Renato Russo
28. Acorda, amor, de Leonel Paiva e Julinho da Adelaide (1974)
29. Animais irracionais, de Dom e Ravel (1974)
30. Aquele abraço, de Gilberto Gil (1969)
31. Cartomante, de Ivan Lins e Vitor Martins (1978)
32. Opinião, de Zé Keti (1964)
33. A primeira noite de um homem, de Odair José (1974)
34. Bolsa de amores, de Chico Buarque (1971)
35. Milagre dos peixes, de Milton Nascimento (1973)
36. Hoje é dia d’El Rey, de Márcio Borges e Milton Nascimento (1973)
37. Comportamento geral, de Gonzaguinha (1973)

 

Novelas:
38. Roque Santeiro, de Dias Gomes e Aguinaldo Silva (censurada em 1975, foi ao1985)
39. Selva de pedra, de Janete Clair (1972)
40. O Bem-Amado, de Dias Gomes (1973)
41. Pecado capital, de Janete Clair (1975)

Filmes:
42. O bandido da luz vermelha, de Rogério Sganzerla (1968)
43. Laranja mecânica, de Stanley Kubrick (filme estrangeiro censurado, considerado violento) (1971)
44. Terra em transe, de Glauber Rocha (1967)
45. Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade (1969)
46. Como era gostoso o meu francês, de Nélson Pereira dos Santos (1971)
47. Opinião Pública, de Arnaldo Jabor (1967)
48. A freira e a tortura, Ozualdo Ribeiro Candeias (1983)
49. Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho (1984)

Publicação:
50. Revista Fradim (1971-1980)

 

 

Nossa observação: 

Que triste aquela época (trocadilho). Não se podia nada mas se se podia tudo.
Bons tempos aqueles.
Eramos felizes e não sabiamos.