A minha história, depoimento de fé.

01/07/2017 19:06

Muitas vezes não agradecemos por estar vivos. Muitas vezes nem mesmo conseguimos entender quais os propósitos para que Deus nos tenha permitido renascer, reviver.

Eu creio que todos que tenham mais idade devem se lembrar de um canudo de borracha que colocávamos nas torneiras das cozinhas para que a água não se espalhasse.

Era vermelho e comprido, afunilado e mantinha um jato só d’água.

Coisa de 55 anos atrás aproximadamente.

Nessa época como toda criança levada e sadia, fazíamos muitas artes e corríamos feito doidas pelas ruas e pela casa toda.....

Nossas mães tinham que ter muita paciência mesmo.

E bebíamos água de mangueira e da torneira e não morremos por conta disso.

Numa dessas manhãs, após correr muito pelas ruas, cheguei em casa (aconteceu comigo) e corri para a cozinha para beber um bom copo d’água.

Minha mãe estava no quintal no trato com as roupas e então resolvi subir na pia e pegar eu mesmo a água que queria.

Tinha por volta de seis para sete anos.

Eu me deparei com um desafio: Como subir naquele prédio de pelo menos dois andares que era o que representava a pia lá de casa?

Sem problemas, me agarrei naquela borracha vermelha e fui subindo. A borracha escapou da torneira e fui de costas ao chão batendo com a cabeça no piso.

Minha mãe conta que entrava na cozinha quando me viu e só pode mesmo me acudir quando já estava caído.

Como toda criança, chorei muito e ainda levei bronca dela que ficou muito brava, mas por conta de seu amor e desespero.

Naquela noite tive um sono difícil e reclamei muito.

No dia seguinte minha mãe resolveu que me levaria ao médico, mesmo meu pai sendo contra e crendo que se tratava do reflexo da queda e do “galo” que se formara.

Em São Paulo havia um hospital chamado CRUZ AZUL, ainda existe, e fica no bairro do Cambuci na Av. Lins de Vasconcelos e ele atendia ao publico, não havia ainda o SUS. Era um hospital católico de freiras e padres, mas conhecido por sua qualidade e atenção.

O médico, por desencargo de consciência, pediu um raio X, que era tudo o que se dispunha naquela época.

Bem, depois da sexta chapa, o médico chamou minha mãe e disse que iria me internar.

Minha mãe se assustou e disse que eu não tinha nada como assim me internar.

Então ele explicou para minha mãe que eu tinha fraturado o crânio na queda e que não demoraria em entrar em coma.

Minha mãe, como toda mãe se desesperou e não acreditou nele. Chorava muito enquanto me abraçava e eu desmaiei em seus braços.

Em síntese.....

Passei nove meses em coma profundo.

Me recordo, ainda que vagamente, de uma ou outra vez que abri meus olhos e via um monte de tubos em mim. Havia um brinquedo na cama uma ROMISETA vermelha, carro de época e voltei a dormir.

Minha mãe conta que um dia o medico que cuidava de mim pediu para ela autorizasse que fosse ministrado um remédio que ainda não havia no Brasil e que havia sido trazido dos EUA para testes em pacientes em meu estado.

Minha mãe conta que um padre foi chamado e que me foi dado extrema-unção e o remédio foi, então, aplicado, através de uma injeção no céu da boca.

A partir daquele dia, ficava uma freira em meu quarto vinte e quatro horas por dia e meus pais não podiam me ver.

Quatro dias depois, me contava sempre minha mãe, eu abri os olhos e a freira se assustou. Chamou o medico rapidamente e ele entendeu o que poderia ser talvez a chamada “melhora da morte” em que um paciente se recupera e morre quase que em seguida.

Com o medico na sala eu disse que estava com fome (NOVE meses no soro).

Ainda como ela me contava, o medico olhou para a freira e me perguntou o que eu gostaria de comer.... então disse “ROIZ FEJÃO E TOTA TOLA”.

Em plenas quatro horas da manhã a freira teve de correr para a cozinha, por ordem medica, para fazer o que eu queria. Só pude comer um pouquinho, porque ainda estava muito fraco e daí para frente fui melhorando gradativamente.

Após mais um mês internado finalmente recebi alta, porém com recomendações seríssimas de fazer um eletroencefalogramo a cada quinze dias para acompanhamento.

Após três meses esse exame passou para mensal, depois trimestral e por fim anual por um período de três anos.

No ultimo exame que fiz o médico me deu alta definitiva, mas avisou minha mãe que quando fizesse dezoito anos poderia aparecer alguma coisa, pois é nessa fase que nosso cérebro se ajusta e passamos da adolescência para a idade adulta.

E realmente quando estava com quase dezenove anos desmaiei e fui parar no hospital. Me disseram que tive uma convulsão e tive de tomar remédios controlados por dois anos.

Nunca tive sintomas nenhuns. Nunca tive dificuldades de aprendizado nem maiores problemas.

E porque conto essa historia?

Porque minha mãe nunca acreditou que morreria.

Ela dizia que Deus havia dito para ela que eu sobreviveria e que estaria presente no aniversário de meu primo, no final do ano, o que de fato ocorreu.... Foi mais que uma festa... foi uma celebração ao meu renascimento.

Minha mãe morreu aos oitenta e dois anos e me repetiu essa mesma historia centenas de vezes numa demonstração de Fé inabalável, católica fervorosa que era e que sei está com meu pai e me vigiando todos os dias, amparada e acarinhada pelo Pai maior e seu Filho Jesus Cristo.

Dela sempre lembrarei palavras que me disse naquele dia

“Voce só faz arte e se você morrer eu te mato....”

Como não amar uma mãe dessas.

Não poderia deixar de deixar registrado em um artigo especial dedicado a ela por seu carinho e amor incondicionais e por tudo o que passamos no passado.